COLUNA DE QUINTA : O silêncio que precede o esporro

Desalento,despropósito,porque?As palavras não saem,a gagueira some apenas quando me ponho a vomitar no papel palavras que deveriam ser gritadas para o mundo.
Na ânsia de minimizar o peso de uma alma e de um coração cansado penso...Qual será o verdadeiro sentido da vida ? O sonho de dias melhores diminui a cada constatação de que ,mesmo nos dias atuais, a mordaça ainda é imposta não só pelas regras de boa conduta ,mas por valores impregnados numa sociedade hipócrita.
Tentar,tentar,tentar e descobrir que o esforço de uma alma cansada de "falhar" se transpõe no riso que floresce da face.Constatar que esse riso que contagia a todos não é capaz de iluminar a mim mesma traz o sentimento de inutilidade e dúvida.Não quero mais me calar.
É desesperador perceber que uma sociedade em constante transformação ainda guarda,esconde,abafa e mata sentimentos e verdades interiores ou muitas vezes universais por medo de desobedecer a retrógrada e fraca "lei do silêncio" que inibe o natural.
Sim,eu sei que meu coração está inchado de amor,carinho e admiração pelo ser humano,mas isso de torna vão quando percebo no olhar das pessoas certa indiferença e nenhuma motivação de mudança.Como pode alguém não silenciar quando a censura das pessoas que mais ama se constitui numa imagem sólida e presente ?A mordaça sufoca e endurece a alma.
Conseguir sentir o calor do sol,a leveza do vento e o aconchego do mar me faz acreditar em dias melhores e mais completos de algo que não sei o que é.Vivo...Simplesmente existo e busco completar de forma tênue e resplandescente aqueles que me rodeiam.
Essa admiração pelo ser humano,mesmo aqueles de alma pequena e sentimentos desordenados me movem e me fazem sorrir,mesmo que este sorriso transborde numa máscara simples de felicidade.Aspiro a vida , mesmo não tendo motivos para tal.
Um dia o meu grito sairá de forma frágil e intensa,quase inperceptível para aqueles que apenas se alegram com meu riso.Já para os que se alegram com o meu grito, ele trará sentimentos e medos, aliviando a falta de ar de um coração aquecido.
Em meio à essas simples reflexões vomitadas e deseperadamente escritas ,concluo com um ponto se seguimento que o meu silêncio é breve ,mas por enquanto o meu melhor amigo é o único que não pode me calar,tornando concreto o sonho do livre arbítrio :o papel.Enquanto com ele não for preciso silenciar nem congelar meus sentimentos,estarei livre da mordaça imposta pela hipocrisia.
Simplesmento grito em palavras o que não consigo falar pro mundo ,sempre driblando o silêncio que precede o esporro.